A natureza sagrada das árvores

A natureza sagrada das árvores
Árvores sempre foram reconhecidas como a melhor dádiva da natureza à raça humana. Elas fornecem alimento, abrigo, ferramentas, remédios, barcos, fogo, armas, vestimenta, sombra no verão, calor no inverno e beleza o ano todo. Elas eram abordadas com reverência e circunspecção pelos povos antigos, pois eram obviamente entidades vivas gigantescas, imbuídas de espírito. Honrando o espírito da árvore, eles desenvolveram cerimônias que deviam ser observadas antes de se cortar uma árvore. O culto à árvore era comum e não apenas entre os druidas. Algumas árvores específicas se tornaram divindades oraculares, cuja voz podia ser interpretada por uma sacerdotisa ou um sábio que morava perto da árvore.
Na Alquimia, a árvore da vida foi representada como uma mulher nua, coroada com galhos brotando de sua cabeça, plena de frutos e uma ave fênix nos galhos, o sol à direita, a lua à esquerda e nas mãos objetos que podem ser raízes ou bastões de poder. A carta do tarô 'o mundo' parece ser uma versão tardia da árvore-mãe, também chamada de árvore da vida.
A árvore da vida dos mitos nórdicos era um freixo chamado Yggdrasil, que significa Cavalo Terrível ou o Cavalo de Ygg (o Ogre), porque Odin cavalgou nele para a morte. Como eixo do mundo, suas raízes sustentavam a terra, seu tronco passava pelo centro do mundo, seus galhos se estendiam sobre o céu, enfeitados com estrelas. Das suas três raízes gigantescas, uma se dirige para a fonte subterrânea da terra (Urd), onde as Nornas vivem em sua caverna e perpetuamente decidem o destino dos seres humanos. Outra raiz alcança a fonte de Mimir no país dos gigantes gelados, fonte da sabedoria. A terceira raiz vai a Niflheim, o submundo presidido pela deusa Hel. Para entrar no submundo e aprender seus segredos femininos, como a magia das runas, Odin ficou pendurado na árvore por nove noites, sacrificando sua divindade. Uma poderosa serpente rói continuamente na árvore. Quando ela tiver sucesso, será o fim dos tempos, pois toda a estrutura e todos os mundos que ela sustenta ruirão.
Muitos mitos falam da árvore da vida, ou árvore do mundo, envolvida com a criação do universo, com a origem da humanidade e com as dádivas divinas do alimento e habilidades civilizatórias. Os maias a chamam de primeira árvore do mundo, ou Verde Árvore da Abundância, e seguiam seus rituais para assegurar que, no final da vida, pudessem descansar no paraíso, à sombra da primeira árvore.
Martírios, como elemento essencial nos mitos da maioria dos grandes deuses, eram associados com alguma versão da árvore. Odin ficou pendurado em Yggdrasil para submeter-se à morte e ressurreição, antes de poder atingir sua completa divinização. Krishna morreu numa árvore. Attis também. Osiris foi envolvido em uma árvore. Jesus foi pregado na árvore-cruz. Considerada como a mãe nutridora, o sangue nela derramado tinha por função manter a força da vida da árvore, de quem toda a vida dependia.
Na Pérsia e na Índia, a árvore da vida era representada com cinco galhos segurando os elementos da criação: água, terra, ar, fogo e éter. No vale do Indus, uma Deusa da Árvore era cultuada por volta do segundo milênio antes do tempo comum, onde a árvore era considerada a fonte de todos os mantras, i.é., da criação. Esta árvore deu o dom da linguagem à humanidade, tendo uma letra ou mantra diferente escrito em cada uma de suas folhas.
Para os indo-europeus, a visão do paraíso incluía a árvore sagrada com uma fonte em suas raízes, do mesmo modo que a macieira da ilha de Avalon, do Jardim das Hespérides ou do Jardim do Éden. A macieira é a árvore que tem a mais forte relação com o outro mundo e as maçãs estão sempre presentes nas cestas e cornucópias da deusa, por serem doadoras de vida.
São abundantes os mitos de deusas ou mulheres divinas se transformando em árvores, como Dafne, Mirra, Dione. Também foi a mãe/árvore que realizava todos os desejos de Cinderela. A árvore dos desejos era a Deusa Ishtar da Babilônia, a figueira cósmica conhecida como a mãe primeva, no lugar central da terra.
Entre os celtas, a árvore expunha continuamente o ensinamento druida da infinitude da vida e da finitude da morte. Uma árvore de folhas parece morta no inverno, mas somente por um tempo finito, enquanto uma conífera representa a capacidade de imposição da vida. As árvores eram sagradas para os celtas. A árvore sagrada era enraizada concretamente em um território do clã, a árvore genealógica em seu sentido literal, representando a riqueza do clã e sua ligação com as divindades da terra e do céu. Esta árvore da vida entre céu e terra formava um micro-cosmos, que provia as pessoas com o sentimento de união e proteção e, como consequência, era natural que as cerimônias de entronização do rei eram realizadas sob esta árvore. Sua destruição significava a destruição do clã.
Um conjunto de árvores sagradas, como uma floresta ou uma clareira circundada por árvores, era tido como santuário, que não necessitava de um ícone da divindade. O outro mundo, como espelho do mundo real, possuía também suas árvores especiais, cujos maravilhosos frutos eram guardados por gigantes ou outros monstros. A luta dos heróis com estes guardiães, ou o roubo dos frutos, constitui temas favoritos de lendas. Às vezes, contudo, os seres do outro mundo partilhavam livremente estes frutos com os seres humanos. Em geral são belas mulheres que atraem os heróis para o outro mundo, mas às vezes também homens, como p.ex. o gigantesco Trefuilngid, que apareceu em Tara (província central da Irlanda) com um ramo na mão, no qual havia nozes, maçãs e bolotas de carvalho. Das frutinhas que deixou para trás, desenvolveram-se as cinco árvores sagradas da Irlanda, que correspondem às cinco províncias, uma em cada direção e uma no centro.
O significado da avelã como alimento e provisão de inverno pode ser avaliada pelo número de vezes em que é mencionado na mitologia e nas lendas. Um reinado justo de um rei aprovado pela deusa tinha como resultado uma abundância de avelãs, como aconteceu com Mac Cuil, um dos ‘filhos da avelã’ e um dos três reis dos Tuatha De Danann, esposo de Banba, uma das três representantes do casamento sagrado da Irlanda.
Os Warao (wa=canoa; arao=povo; warao=povo da canoa), que vivem no delta do Orinoco na Venezuela, acreditam que a floresta é uma tribo de arbustos, palmeiras e árvores animadas. Alguns se originaram de velhos deuses, outros se matamorfosearam e ainda outros sempre foram o ‘povo árvore’. A árvore vermelha cachicamo, usada para fazer canoas, é considerada a Mãe da Floresta, conhecida como Dauarani. Ela é a guardiã da floresta que, em tempos antigos, proibia a matança de grandes mamíferos e o corte não autorizado de palmeiras e árvores.