A trajetória mística dos golfinhos

A trajetória mística dos golfinhos

 

 

Referências ao comportamento e personalidade dos golfinhos remontam aos primeiros documentos escritos. Diversos povos primitivos empregaram sua imagem em pinturas de cavernas, paredes de templos, moedas, jóias, decoração de vasos, etc. Há até um pictograma, um selo de golfinho na Ilha de Creta, no Mar Mediterrâneo, que data de 3,5 mil anos antes de Cristo nascer.

Em todos os povos, ele sempre foi símbolo sagrado. Para os helênicos, representava a saúde e a salvação. Hermes, deus do comércio e do esoterismo (origem do termo `hermetismo'), mensageiro dos deuses do Olimpo, com asas nos calcanhares e capacete, era, muitas vezes, representado cavalgando um golfinho, pois o animal estava associado a segredos herméticos, ao esoterismo e misticismo. Eros, Afrodite e Apolo, deus do sol e das artes, também eram representados assim. No famoso oráculo, templo de Apolo, na Ilha de Delfos, local de adivinhações, as profecias eram proferidas sempre por uma "mulher-golfinho", virgem sacerdotisa vestal. Telêmaco, filho de Ulisses, foi salvo de morrer afogado por um golfinho.

ATLÂNTIDA - Na Mesopotâmia também há lendas mais antigas ainda. A Babilônia teria sido lendariamente fundada por deuses-golfinhos. E a própria ilha perdida de Atlântida, o continente afundado citado por Platão, lenda das mais antigas e universais e origem de diversas doutrinas ocultistas, também foi fundada por golfinhos, ancestrais divinos dos reis atlantes.

O povo atlante levava tão a sério sua origem lendária e orgulhava-se tanto do seu passado e de seus ancestrais que o golfinho era seu símbolo, sua bandeira, brasão-escudo heráldico presente nas armaduras, punhos das espadas, velas dos navios e até nas moedas. Golfinhos sempre foram tema de tatuagem na pele dos marinheiros, desde a lendária Atlântida até os nossos dias.

O pesquisador e explorador submarino Jacques Cousteau chamava os golfinhos de "vozes do mar" e de "intelectuais dos mares". E o escritor norte-americano Arthur C. Clarke dizia que eles têm uma literatura oral, uma história e uma filosofia não-escritas, conhecimentos que memorizam e comunicam verbalmente, contando ou cantando para os jovens aprenderem sua sofisticada cultura, passando sua sabedoria racial de geração a geração. Segundo o astrofísico Carl Sagan, "somos a única espécie com a qual os golfinhos poderiam realizar experiências psicológicas".

Sagan pesquisou o canto de baleias por computadores e descobriu padrões que o convenceram que elas recitam ou cantam longos, enormes poemas épicos. Uma literatura oral, fruto de uma cultura não-humana, resultado de mentes diferentes das nossas, produzindo épicos literários como Os Lusíadas, de Camões, A Ilíada e a Odisséia, de Homero, a Eneida, de Virgílio, O Paraíso Perdido, de Milton - obras poéticas da magnitude de uma epopéia de Gilgamesh, de uma Divina Comédia, de Dante, ou mesmo o Alcorão ou a Bíblia, com suas lições de vida.

COINCIDÊNCIAS - Os aborígenes do norte da Austrália consideram o golfinho um animal sagrado, ancestral mítico. Ele é o seu totem. E os antigos egípcios acreditavam que esses animais eram encarnações dos deuses. Para os hindus, o deus Vishnu, em uma de suas encarnações, foi uma baleia. Vishnu é um dos principais deuses da trindade hindu e ter sido uma baleia é uma honra e distinção para com os cetáceos. É como se, para nós, Cristo tivesse encarnado em um golfinho.

No livro Golfinhos - a nova mitologia, Boris Sai conta um caso de cientistas que chegaram de navio num local do mar, na costa mexicana, para estudar um eclipse total do sol mais visível daquele ponto. Pois, ao chegarem ao lugar, encontraram milhares de golfinhos que pareciam ter ido lá tempos antes para esperar o espetáculo do eclipse solar.

Seria coincidência ? Ou eles sabem Astronomia e calculam a trajetória dos astros, como os marinheiros antigos em suas caravelas ? O jornal New York Times conta que quando um helicóptero jogava ao ocenao uma coroa de flores na exata longitude e latitude onde, em janeiro de 86, havia caído a espaçonave Challenger, um grupo de 50 golfinhos fez um tipo de balé, dançou em conjunto como que homenajeando os astronautas mortos. Outra coincidência?

 

por FLÁVIO CALAZANS

O autor é doutor em comunicação pela USP e um estudioso do esoterismo