O Labirinto

O Labirinto

A lenda sustenta que neste lugar se ergueu a primeira Igreja cristã do Ocidente, destino de peregrinações no condado de Somerset, Inglaterra, Santuário mágico nos tempos megalíticos. É um dos caminhos de peregrinação na busca contínua da Verdade e também de transmissão de energia espiritual.

As lendas e as tradições foram transmitidas de forma oral, de geração em geração, muitas vezes por meio de poemas e canções, mas sempre com um fundo real e/ou histórico. Muitas delas têm um fundo espiritual e uma importante carga mística e esotérica. Todas as lendas nos enviam mensagens, que, se soubermos captar, nos darão a chave do caminho que devemos tomar para o aperfeiçoamento espiritual.

Quando nos aprofundamos nessas lendas, penetramos de tal forma, que percebemos uma vibração interior que expande nossa energia e nos une, independentemente do tempo e do espaço, em uma comunhão espiritual com os personagens e fatos que se relatam.

A herança espiritual de Glastonbury é incomparável e rica de uma mitologia insuperável, de grande misticismo, que pode nos transportar a

planos superiores, pois segundo a lenda, foi o local em que o essênio José de Arimatéia depositou o Santo Graal.

Se formos receptivos, escutaremos os cantos dos druidas como uma canção celestial, surgida das árvores, para que nos unamos à fraternidade universal.

Os celtas situavam neste lugar uma das portas de acesso ao "outro mundo", assim como a localização mística e misteriosa da Ilha de Avalon.

O local mais emblemático é a Tor, ou colina, no idioma gaélico, com seus 176 metros de altura, coroada por uma torre de pedra. Não tem grande altura, mas sim grande força telúrica, igual a Stonehenge e a Avebury, com as quais formam um triângulo, símbolo de fogo e de impulso ao superior.

Houve duas construções religiosas ao longo dos tempos: a primeira foi destruída por um incêndio e da segunda, nos dias atuais, só resta a torre que formou parte de uma igreja-monastério.

Ambas as construções foram consagradas a Arcanjo São Miguel, um dos três arcanjos citados na Bíblia, chefe da milícia celestial, que lutou contra o mal personificado, neste caso, os dragões, os quais destruiu. É o guardião da porta de entrada ao mundo subterrâneo dos celtas, o Annwn, governado pelo Rei Gwyn ap Nydd.

A missão da comunidade monástica ali estabelecida seria de ajudar São Miguel, impedindo a entrada em nosso mundo de seres malignos. Isso não é estranho, pois em outras comunidades religiosas, em diferentes lugares do planeta, tem a mesma missão.

Em todo lugar a que chegavam os missionários cristãos, as divindades locais tentavam assimilar sua religião, e por isso se pensa que São Miguel, campeão da luz, com sua espada flamígera, enfrentava as forças do mundo subterrâneo — o plano das forças das trevas —, mas na realidade era o deus celta Bel ou

Belial, cristianizado, para o qual era dedicada a festa da fertilidade, Beltane, no início de maio.

Uma lenda nos conta que Gwyn (ou o diabo, existe quem o diga) decidiu conservar a torre por ter em suas paredes desenhos e relevos pouco cristãos, como é o caso de uma representação de São Miguel, que nos faz lembrar das imagens egípcias, ao parecer pesando a alma dos mortos, ou de Santa Brígida com uma vaca, lembrando que na realidade é a cristianizada deusa celta Brigit, uma das manifestações da Grande Mãe.

Nossa mística colina de Glastonbury tem ao seu redor uma série de terraços artificiais distribuídos em sete níveis, usados pelos monges para seus trabalhos de agricultura, mas é tão mais antiga, que seu uso originário talvez fosse bem diferente, pois os terraços que formam a colina também são contemporâneos das grandes construções neolíticas de Avebury, Salisbury Hill, Newgrange e Stonehenge. Esses terraços faziam um caminho orograficamente irregular, que estava desenhado em anéis concêntricos integrando em seu conjunto um labirinto, sendo necessárias três horas para fazer todo seu percurso, e era por este caminho que subiam os peregrinos ao santuário. Esse caminho tem um aspecto similar ao de tantas outras culturas, entre as quais a mais conhecida é a cretense.

No passado cristãos fervorosos subiam de joelhos já que os sete níveis foram associados às sete estações de Cristo com a cruz em ascenso à colina do Calvário.

O significado do labirinto é como o caminho da vida que passa pela morte, chegando à ressurreição, ou seja, uma via iniciática que tem um começo de caminho e um retomo obrigatório para que a pessoa humana compreenda os mistérios de sua própria natureza.

Atualmente, em certos dias do ano, católicos e protestantes realizam suas peregrinações separadamente em Glastonbury.

Numerosos grupos, não cristãos, reivindicam este lugar como um grande centro druídico, pois em outros tempos contava com um dos três coros perpétuos da Bretanha — os outros estavam na Ilha de lona, Escócia, e em Anglesey, Gales —, e tinham como missão "enfeitiçar" a Terra com seus cantos sagrados.

Esses grupos celebravam as grandes festas da época dos celtas: Imbolc (1º de fevereiro) é a festa à Brigit e traduz um tempo de purificação e de semeadura; Beltane (1º de maio) corresponde à festa de Bel, deus da Luz, da Renovação e da Fertilidade; Lughnasad (6 de agosto) é a festa de Lug, ou da colheita; e Samain (1º de novembro), coincidindo com a festa a que chamamos de Todos os Santos — noite de portas abertas entre ambos os mundos. Por isso, na Tor, não é difícil encontrarmos pessoas meditando na lua cheia; às vezes são monges budistas ou expertos em feng-shui, que para eles é um dos lugares onde as correntes do céu e da terra confluem em harmonia.

Na Antigüidade, observavam-se elfos e fadas que surgiam do Annwn, e hoje dizem que também se podem observar OVNIs. A uma distância considerável, acredita-se, estava a entrada do caminho principal, onde ainda existem dois grandes carvalhos — Gog e Magog — que sobreviveram aos tempos daqueles que rodearam o sendeiro dos peregrinos até o labirinto, seguindo uma linha, na qual se veria sobre a Tor a saída do Sol no solstício de verão e o seu ocaso no inverno. Essa avenida terminaria onde agora estão as Pedras do Druida, as duas únicas que permaneceram em seu lugar.

Possivelmente, por esse labirinto se atravessava um bosque, pois contam que São Patrício, patrono e evangelizador da Irlanda, no século V, prometeu cem dias de indulgência a todos que ajudassem a cortar a vegetação que cobria a colina.

Túneis e cavernas encontram-se no interior da colina com estalactites formadas pelas correntes da água, ricas em cálcio e de fluxo contínuo. Antes que Water Board — companhia encarregada do fornecimento de água — fechasse o manancial conhecido como White Spring em um edifício, ele era um dos locais mais bonitos de Glastonbury, rodeado de árvores e com formações rochosas de cor branca pelas substâncias do cálcio. Também dizem que, desde a época celta, esta colina era perfurada por subterrâneos que levavam à Abadia, que era uma construção artificial em vários níveis.

Não é difícil imaginar peregrinos saindo das brumas que flutuavam sobre os rios e pântanos, passando pela longa avenida rodeada de carvalhos, subindo pelo labirinto em procissão, talvez iluminado por tochas.

Os druidas os recebiam no topo e concediam bênçãos junto a uma grande fogueira e, com os fogos cerimoniais acesos sobre outras colinas sagradas, seguiam uma reta que era chamada o "Caminho do Dragão", que alguns acreditam ir ao longo do mundo como um longo canal de energia.

A cripta é o elemento mais antigo e parece ter algo de especial para a meditação.

Hoje, a Abadia de Glastonbury está em ruínas. Foi a última que Henrique VIII ordenou fechar. Lá, esteve a igreja mais antiga do Ocidente, que, conforme algumas tradições locais, foi fundada pelo essênio José de Arimatéia em honra a Maria que, poucos anos depois da crucificação de Jesus Cristo, teria trazido consigo o Graal. A lenda afirma que o Graal se encontra enterrado no que hoje é o Chatice Well. Possivelmente, esse lugar era bastante conhecido por ter sido um importante porto para os mercadores de estanho na Idade do Bronze — muitos deles procedentes da antiga região espanhola chamada Tartesos — quando esta região era só uma ilha

no meio das restingas de estanho. Naqueles tempos, Glastonbury contava com uma importante escola druídica.

Um sincretismo bastante particular aconteceu entre os druidas e os primeiros cristãos, pois costumavam dar-se bem, mas não podemos esquecer o sincretismo que ocorreu na Irlanda, onde o cristianismo celta chamava Jesus "O Arquidruida".

Essa próspera instituição beneditina era governada pelo abade Michael Whyting, de 80 anos. Os homens do rei disseram que encontraram um cálice roubado do tesouro real, e talvez, para que servisse de exemplo, o ancião abade foi pendurado na Tor e depois seu corpo teria sido esquartejado em quatro, cada pedaço levado às quatro cidades mais próximas e mais importantes, enquanto a cabeça permaneceu no átrio da mesma Abadia. Não é de estranhar que, de vez em quando, o fantasma do abade se deixe ver por essas localidades. Depois que a Igreja Católica foi proibida na Inglaterra, a Abadia passou a pertencer à Igreja Anglicana.