Os locais sagrados

Os locais sagrados
 
   
      Glastonbury (Somerset, em Inglaterra) é uma cidade que parou no tempo.
 
    Considerada uma cidade sagrada, é ponto de peregrinação desde a Idade Média, por constar que foi ali, num Poço Místico, que José de Arimateia, escondeu o Santo Graal, ou o Cálice da Última Ceia de Cristo. É também a Avalon das lendas Arturianas, onde consta que, na Abadia de Glastonbury, um monge encontrou o túmulo do Rei Artur e de sua Rainha, Guinevere, o qual permaneceu no interior da Abadia até à Reforma Religiosa da Inglaterra, quando todos os conventos e monastérios foram encerrados por ordem do Rei.
 
   Sendo um local turístico, a maioria das pessoas chega a Glastonbury inseridas em excursões. Outras, mais aventureiras, através de mapas e do tão conhecido GPS.
 
    A chegada à cidade é sempre acompanhada de elevados níveis de expectativa e curiosidade. Os panfletos, recolhidos com antecedência no último ponto turístico, provavelmente em Bristol ou em Bath, acumulam-se no banco de trás do carro alugado, sendo que os pontos-chave assinalados são, como não poderia deixar de ser, a Abadia, o Monte Tor e os Jardins do Chalice Well (Poço do Cálice).
 
     Imediatamente percebe-se que aquela não é uma cidade comum…
 
   Relativamente pequena e acolhedora, a rua principal dá entrada para a Abadia, a sua perpendicular polvilha-se de pequenas lojas e, na praça resultante da união das duas, pequenos cafés convidam ao descanso. No entanto a atmosfera é única.
 
 
    Nas vitrinas das lojas vêm-se livros sobre Magia, Astrologia, Tarot e Terapias Alternativas. Pêndulos, pedras semi-preciosas e cristais brilham ao serem tocados pela luz do sol. As lojas esotéricas e os restaurantes vegetarianos dominam o comércio. O aroma dos incensos espalha-se pelas ruas e as pessoas sorriem amigavelmente quando se cruzam, mesmo sem se conhecerem.
 
    Ali, as crenças misturam-se sem preconceitos. Pagãos e cristãos moram lado a lado, frequentam os mesmos locais de culto e respeitam-se mutuamente, numa perspectiva de Amor Universal. Hippies, Padres, Magos e Sacerdotisas percorrem as ruas dentro do espírito fraterno que todas as crenças apregoam e que parece ser tão difícil de pôr em prática.
 
    O primeiro ponto de paragem é a Abadia de Glastonbury, a primeira igreja cristã nas Ilhas Britânicas, onde, nas criptas deste local místico, o coro da Igreja, trajando as suas túnicas pretas, vermelhas e brancas, ergue as suas vozes em hinos de glória em nome do Senhor.
 
 
 
 
    De seguida segue-se o monte Tor, uma colina com acesso em espiral que data do neolítico, no topo do qual se encontra a Torre de São Miguel, a única coisa que resta da antiga igreja com o mesmo nome, construída no século XII. Este é um local antigo e ancestral, ponto de culto dos povos pagãos e, segundo a tradição, um Portal para o Outro Mundo, cujo senhor é Gwynn ap Nud.
 
 
 
    Nos relvados que rodeiam a Torre de São Miguel, grupos juntam-se em meditação, contemplação e oração. E, ao pôr-do-sol, os rituais de despedida do dia que termina e de acolhimento à noite que se inicia, ecoam por este lugar sagrado.
 
 
 
    No interior desta Torre, o Aspirante, ainda inconsciente da sua posição, recebe o primeiro sinal que lhe indica que algo está prestes a mudar. Eis se não quando, inesperadamente, insolitamente, das alturas que o rodeiam, cai mesmo a seu lado um pequeno coração de pedra, de laivos brilhantes.
 
 
    Perscrutando as muralhas antigas, o improvável, para não dizer impossível, torna-se real. E aquilo que não tem justificação racional deve ser aceite, e integrado, e reconhecido com Gratidão.
 
 
     Com o dia a terminar a cidade adormece. Porque aqui não há horas de trabalho pela noite dentro. Aqui respeitam-se os ritmos da natureza, e os ritmos do Homem, que necessita de tempo para si, para a sua família e para a espiritualidade.
 
     O amanhecer também é tardio, pois há que dar graças pelo dia que se inicia, seja rezando uma Ave Maria, ardendo um pau de incenso, meditando ou agradecendo a vida que Gaia alimenta e suporta sobre a sua imensa superfície.
 
     As lojinhas, essas, são encantadoras. O sonho de qualquer um, que trilhe os mundos da espiritualidade. E eis se não quando, ao explorar um pouco melhor a cidade, ao passar sob uma arcada pintada por algum artista desconhecido, numa pracinha com a estátua de um Buda de um lado e a de uma Donzela do outro, encontra-se um Templo Perdido.
 
    A curiosidade que alimenta os passos, à medida que se sobe as escadas, é rapidamente substituída por uma profunda sensação de Reverência. Ali, naquele cantinho afastado do trânsito diário de turistas, a Vibração é intensa, quase palpável.
 
    Os sapatos ficam do lado de fora e, de porta aberta, o pequeno Templo convida todos os que ali chegam a entrar e a parar, por instantes, para desfrutar do Silêncio e de um momento de Encontro único com o Eu e com as Energias do Cosmos. À esquerda, um Círculo formado por suaves panos de seda, recebe no seu abraço aqueles que vêm necessitados de Cura. À direita, num pequeno altar, decorado com espigas e flores, ardem algumas velas. O semi-circulo que o rodeia é formado por almofadas e, sentadas aqui e ali, pessoas de todas as Raças meditam e oram.
 
    Este é o Templo da Deusa, da Mãe, da Energia Feminina Criadora, de Gaia na Visão daquela-que-suporta-a-Vida. Aqui não existem imagens, nem ícones. A Divindade não tem nome, nem rosto. É Energia Pura; a Energia que nos rodeia e que nos habita. A mesma que nunca se perde, apenas se transforma, adoptando outras formas. Aqui, o Abraço da Mãe é sentido, amado e agradecido. Aqui todos são Filhos, e todos são Pais, e todos são Deuses. Indiscutivelmente, a conexão encontra-se presente. Neste ponto de Oração a expressão máxima de Glastonbury é ainda mais intensa, mais sentida e, por esse motivo, melhor compreendida. A sincronia deixa o Coração aos saltos, exultante, no reconhecimento de quem, inesperadamente, se vê de volta a Casa. Aqui a Onda Vibratória é a mesma e a linha lúminica que une este ponto Sagrado a um outro, em Lis-Fátima, Portugal, é absoluto, claro e inegável. Quase como se aqui se encontrasse a expressão, no Mundo Físico, do que é guardado nos planos sublimes de Lis. A Mãe encontra-se presente, não só no ar que se respira, mas também nos Corações daqueles que oram naquele lugar.
 
   Em Contemplação, em Exaltação, o Aspirante inconsciente mal se apercebe da Irmã que ocupou o lugar a seu lado. E por isso, é com surpresa que se vê abordado por esta mulher de cabelos compridos e claros. A partilha é imediata, e muito para além de palavras. A voz que fala é de coração para coração, de Alma para Alma. E assim o planeado foge ao controlo, e o que deveria ser apenas um passeio turístico transforma-se num Curso Sacerdotal e numa Iniciação. O convite é directo, frontal e irrecusável. O reconhecimento também. Os olhos sábios que observam o Aspirante reconhecem nele outras Iniciações Etéricas, e a Dama do Lago é a mesma, quer ali, quer em Portugal. Sem serem necessárias apresentações ou conversas sobre o quotidiano, o conhecimento existe, como se de Irmãs reencontradas se tratassem. Há uma Ligação Superior reconhecida, tanto entre Almas, como entre Vibrações e Centros Superiores. Acima de tudo, há uma Ponte a ser estabelecida. Um regresso à Origem. Uma União de duas partes que, nos Mundos Invisíveis, sempre foram apenas Uma.
 
   Os Ensinamentos partilhados ao longo dos dias seguintes são de simplicidade, harmonia, conexão suprema com o Universo, mas também, e em especial, com o pequeno que nos rodeia. A Mãe que nos suporta e dá vida também respira, e fala, e ama. Há que redescobrir os Sentidos que permitem ao Homem entrar em sintonia com aquela que, mesmo sem pedir nada em troca, nos envolve e nos abraça, como o Sorriso doce e maternal de Maria. O Conhecimento em si é Ancestral e, de certa forma, lógico, mas, infelizmente, esquecido. Há que reaprender a ser Uno com o Mundo, a compreender e a respeitar os seus ritmos, pois só assim é possível eliminar o atrito e o ruído que nos mantém presos à densidade material que abafa a Luz do Espírito. Aqui sabe-se que a Evolução do Homem passa pelo Amar daqueles que são menores e, aparentemente, insignificantes, e não apenas pela Devoção ao Supremo Criador, ou da Aspiração a níveis de Consciência mais elevados. Porque uma Alma Evoluída jamais negaria o Manto que a acolhe, jamais o ignoraria ou destruiria. E porque ao compreender os Ritmos do Mundo que o rodeia, o Homem passa a compreender os seus próprios Ritmos e os dos seus Irmãos. Somos todos Um, células vivas de um mesmo Organismo, e esta é a Mensagem que deve ser passada e vivida a todos os Filhos de Lis. Não são necessárias grandes Palavras de Sabedoria, nem Templos grandiosos ou Comunidades Espirituais. Tudo o que é preciso é Ver, e não apenas olhar, Sentir, Compreender e Respeitar, vivendo em Harmonia e respirando com a Natureza.
 
   Embora restasse a sensação de que havia muito mais a aprender, ao Aspirante, agora Iniciado, é ofertado um doce sorriso. Na verdade, não há muito mais a ser dito. Este é um Conhecimento que se encontra impresso no ADN ancestral. Tudo o que é necessário é despertar a Consciência para a sua existência, como quem acende a ponta de um rastilho interminável. Agora, o Iniciado deverá regressar a casa, portando a outra margem da Ponte de Luz que foi criada, a expressão da Ponte Etérica que já existia; levando um pouco de Avalon consigo e deixando, em seu lugar, um pouco de Lis.
 
   Na despedida é convidado para uma peregrinação silenciosa pelos Jardins Sagrados do Chalice Well. Local de Cura, Silencio e Meditação, aqui encontra-se a fonte inesgotável de água vermelha, cujas propriedades de cura têm atraído viajantes desde os tempos do neolítico.
 
 
    Caminhando com os pés mergulhados nesta Nascente Sagrada, a Gratidão é profunda e a certeza da Perfeição Sublime da Geometria do Mundo avassaladora. A água pode ser bebida e levada, sendo uma Dádiva Divina, e o som cantante das suas cascatas é uma Melodia pura e cristalina.
 
 
 
    É junto ao Poço Sagrado, cuja fonte brotou depois de José de Aremateia ali ter enterrado o Santo Graal, que as Sacerdotisas Irmãs se juntam, de mãos dadas, sob as árvores consagradas e sob a maior dádiva dos céus à terra, a chuva. Duas das suas Irmãs preparam-se para regressar a casa e, embora os momentos que partilharam tenham sido breves, o Elo é real e palpável. Além disso, o espaço e a distância nada dizem nem ao Coração nem à Alma. E a Vida é como o Mar, traz e leva e volta a trazer, consoante as marés do Destino.
 
Poço Sagrado
 
    Como que para o comprovar, e uma vez mais inesperadamente, duas ofertas foram preparadas. Um medalhão com o símbolo que guarda a cobertura do Poço Sagrado, o Vesica Piscis, que representa a união do Mundo Espiritual com um Mundo Material, no centro do qual se encontra o Homem. E um anel dourado com o símbolo da Flor-de-Lis, em nome da Ponte estabelecida, e o qual surge aqui e ali, por toda a cidade, em azulejos e pinturas antigas, representando a Mãe, tal como foi adoptado por Garcia IV, Rei de Navarra, que o passou a usar como símbolo do seu reinado, após ter sido curado de uma grave doença depois de ter tido uma visão da Nossa Senhora desenhada no fundo de um lírio.
 
   E assim o fim de um Ciclo marca o início de outro. Para trás fica Glastonbury e as suas lojinhas, Avalon e as suas Brumas e Mistérios, e a Ilha Sagrada, agora uma nova casa, onde Irmãs de Tempos Imemoráveis aguardam um novo Regresso.
 
 
Sophia C.*