Hiperbórea na Idade Moderna

Hiperbórea na Idade Moderna
Em 1679, quando a concepção de Mercator já havia sido abandonada, o médico e erudito sueco Olavo Rudbeck, reitor da Universidade de Uppsala, publicou uma obra chamada Atlantica, com a qual pretendia provar que a Suécia era o berço da História e nada menos que a antiga Atlântida de Platão. A capital do lendário império estaria localizada exatamente sob Uppsala (veja Atlântida na Idade Moderna). Rudbeck argumentou que a rotação da Terra junto aos pólos teria sido mais lenta e a atmosfera menos agitada, fazendo da região um lugar de eterna primavera. Por meio dessa idéia, ele identificou seus atlantes com os legendários hiperbóreos, vivendo em meio a seu dourado "Jardim das Hespérides" perto do Pólo Norte.
Mais tarde, o astrônomo francês Jean-Sylvain Bailly, considerando tábuas astronômicas indianas que ele acreditava terem sido compiladas muito ao norte da Índia (paralelo 49º), lendas zoroastristas segundo as quais os ancestrais dos iranianos vinham do “pólo norte” e o mito grego dos hiperbóreos, concebeu uma pré-história segundo a qual a Atlântida situara-se no extremo norte quando o mundo era mais quente - no arquipélago norueguês de Spitzbergen ou, talvez, na Groenlândia ou em Nova Zemlya.
Ainda não se ouvira falar da fissão nuclear, dos processos de desintegração radioativa que, sabe-se hoje, mantém quente o interior da Terra (e muito menos do processo de fusão do hidrogênio que sustenta o calor do Sol). Os astrônomos pensavam que nosso planeta havia esfriado continuamente a partir da bola de lava que fora há não mais que algumas dezenas de milhares de anos. Segundo essa idéia, o mundo devia ter sido bem mais quente há alguns milênios e, dentro de alguns mais, estaria completamente congelado.
Por isso, especulou Bailly, à medida que o clima esfriou, os atlantes se mudaram para a Sibéria, entre os rios Obi e Yenisei e depois para o Altai, no paralelo 49 (onde hoje se encontram as fronteiras da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão), a partir do qual se espalharam para a Índia, a Pérsia e a Europa. Segundo Bailly, "é coisa muito notável que o esclarecimento pareça ter vindo do Norte, contra o preconceito comum que a terra foi esclarecida, como também povoada a partir do Sul..." Tenta então mostrar que, de acordo com todas as lendas e a sabedoria antiga, "quando a humanidade começou a se reconstituir depois do Dilúvio de Noé, o mais puro fluxo de civilização desceu do norte da Ásia para a Índia que hoje tem a evidência de possuir o sistema astronômico mais antigo da Terra." Segue afirmando que, na maioria das antigas mitologias, parece existir a "memória racial" de uma "origem racial" no Norte distante e, subseqüentemente, uma migração gradual para o Sul.
Desta concepção, surgiu a idéia de uma origem remota da humanidade e da civilização no Norte - ou, mais especificamente, da "raça branca" ou "ariana", identificada com "o mais puro fluxo de civilização" -, visto que os indianos se consideravam descendentes dos "arianos", que alguns europeus identificavam como os povos proto-indo-europeus de cujo idioma hipotético descendiam a maioria das modernas línguas indianas e européias.