Hiperbórea no ocultismo

Hiperbórea no ocultismo
As concepções de Rudbeck e Bailly seriam retomadas e desenvolvidas por várias vertentes do esoterismo. Entretanto, em boa parte da exploração mais direta do mito por correntes racistas e proto-nazistas, o nome dado à terra "ariana" do extremo norte foi Thule.
Tanto Helena Blavatsky e os discípulos da teosofia quanto Julius Evola deram à Hiperbórea um papel importante na origem da humanidade, mas suas concepções foram diferentes.

A Hiperbórea teosófica

Na versão teosófica, Hiperbórea ou Plaksha foi um continente desaparecido no qual se desenvolveu a "segunda raça-raiz", em um esquema evolutivo que compreende sete raças. Compreendia regiões em torno do círculo ártico, inclusive a Groenlândia, Spitzbergen, Nova Zemlya, a Escandinávia, Kamchatka e a atual baía de Baffin. Seu clima era estável e mesmo tropical, devido à posição do eixo da Terra, que mais tarde se desviou de sua posição original. Teria existido entre o período Carbonífero e o Permiano, períodos que na concepção teosófica teriam se dado há pouco mais de 30 milhões de anos (na verdade, o Carbonífero se deu de 359,2 milhões de anos a 299 milhões de anos antes de nossa era e o Permiano de 299 milhões a 245 milhões de anos atrás).
A "raça" que habitava Hiperbórea, porém, era constituída apenas de matéria etérea invisível. Segundo Annie Besant, era chamados Kimpurushas (nome de seres referidos no Mahabharata como meio-homens, meio-leões) e mostravam, durante a existência, dois tipos marcados, de acordo com a "dualidade característica da consciência búdica" que os dominava, relacionados a fogo e água, Sol e Lua.
O primeiro tipo era completamente assexuado e se multiplicava por expansão e brotamento, como a "primeira raça-raiz" que o havia precedido.
À medida que suas formas foram se tornando mais sólidas, cobertas com uma camada mais espessa de partículas terrosas, essa forma de reprodução tornou-se impossível e pequenos corpos passaram a ser "extrudados" a partir deles como gotas de suor. Viscosos e opalescentes, gradualmente endureciam, cresciam e tomavam várias formas. Nessa etapa, eles mostravam esboços dos dois sexos, sendo considerados andróginos latentes.
Dos germes dispersados pelos "humanos" dessa segunda raça, o reino dos mamíferos graduamente desenvolveu-se em toda a sua variedade de formas. Os animais "abaixo" dos mamíferos foram conformados pelos espíritos da natureza.
Sua cor (etérica, invisível à visão normal) era amarelo-dourado, às vezes chegando quase ao alaranjado, outras vezes amarelo-limão pálido. Seus corpos eram filamentosos e muito heterogêneos em forma, freqüentemente com aparência de árvores, às vezes de animais, outras vezes semi-humanos. Andavam à deriva, flutiavam, planavam e ascendiam, chorando um para os outros com sons de flauta, através de florestas tropicais, "cheias de trepadeiras florescentes de botões deslumbrantes", segundo Besant (mesmo se, na realidade, as flores surgiram muito depois do fim do Permiano).
No final de seu período, um novo continente, a Lemúria emergiu das águas ao sul de Hiperbórea, enquanto este continente afundava parcialmente e se fragmentava. Entretanto, a "segunda raça-raiz" teria continuado a existir até meados do período lemuriano, quando o eixo da Terra se inclinou, iniciaram-se os dias e noites de seis meses. Os que restava da Hiperbórea foi coberto de gelo e neve e os remanescentes da sua "raça" se extinguiram.

Julius Evola

Outra concepção dos hiperbóreos aparece com o ocultista italiano Julius Evola, em seu livro Revolta contra o Mundo Moderno (Rivolta contro il mondo moderno), de 1934.
Enquanto ocultistas tradicionalistas como René Guénon seguiam as concepções indianas que faziam da casta sacerdotal dos brâmanes os árbitros supremos, Evola pôs a casta guerreira dos kshatriyas no topo e lhes atribuiu uma religião diferente, uma tradição nórdica de adoração do Sol e valores masculinos, em oposição aos cultos femininos do Sul. A Idade de Ouro teria sido a dos guerreiros e do deus-Sol e a Idade de Prata, a dos sacerdotes e dos cultos da Lua e da Terra. O fenômeno físico da inclinação do eixo da Terra teria causado a mudança climática que provocou a mudança de uma época para a outra e essa "desordem da natureza" seria, por sua vez, reflexo de uma certa situação da ordem espiritual.
De qualquer forma, em certo momento o frio e a "noite eterna" desceram sobre a região polar - à qual Evola dá principalmente o nome de Hiperbórea - e a migração forçada inaugurou a segunda grande era, o Ciclo Atlante. Da "raça Boreal", partiram duas correntes migratórias, a primeira do norte para o sul e a segunda, posterior, de oeste para leste.
A primeira teria atingido a América do Norte e o norte da Eurásia. A segunda foi até a América Central, mas se estabeleceu principalmente na Atlântida. Formaram-se dois centros, um Boreal, referindo-se diretamente à luz do Norte e mantendo a orientação original polar e "uraniana" tanto quanto possível e outro Atlante, que foi transformado pelo contato com os poderes "demoníacos" do Sul, dos antigos lemurianos cujos descendentes sobreviviam nas raças "escuras". Seriam duas culturas, uma heróica, condicionada pelo clima duro, que celebrava o solstício de inverno. A outra, ctônica e "titanizada", com uma religião naturalista e panteísta, da promíscua fertilidade animal e vegetal.
Essas idéias parecem baseadas tanto em A Origem da Humanidade de Herman Wirth (leia detalhes em Atland) quanto na teosofia de Helena Blavatsky, que em seus escritos havia afirmado que "os atlantes gravitaram rumo ao Pólo Sul, a cova, cosmicamente e terrestrialmente, de onde sompram as paixões quentes são sopradas em furacões pelo elementais cósmicos que ali têm sua morada. (...) Toda ação beneficente (astral e cósmica) vem do norte, toda influência letal vem do Pólo Sul. Elas estão muito conectadas com as influências das magias da mão direita e esquerda".
Evola aspirou a ser o ideólogo do fascismo italiano, sem sucesso. Seus pontos de vista aristocráticos (descendia da pequena nobreza siciliana) colidiam com o populismo de Mussolini. Em 1930, atacou a concordata com o Vaticano que impôs o catolicismo como religião oficial (ele defendia um imperialismo pagão, inspirado na antiga Roma) e sua revista La Torre foi proibida. Mais tarde, reaproximou-se do regime e Mussolini elogiou seu livro Sintesi di dottrina della razza de 1941, na qual defendia, contra o racismo "biológico" da Alemanha, um racismo "espiritual" que via opunha o "espírito semítico" ao "espírito nórdico". Mesmo assim, Evola nunca teve influência real sobre o fascismo.