O CONTINENTE DESAPARECIDO DA LEMURIA

O CONTINENTE DESAPARECIDO DA LEMURIA

 
Geralmente é reconhecido pela ciência que o que é hoje terra seca na superfície do nosso globo foi, certa vez, o fundo do oceano, e o que é hoje o fundo do oceano foi, certa vez, terra seca. Em alguns casos, os geólogos têm sido capazes de especificar as porções exalas da superfície terrestre onde esses afundamentos e sublevações da crosta ocorreram e, embora o continente desaparecido da Atlântida tenha, até agora, recebido um escasso reconhecimento por parte do mundo científico, o consenso geral de opiniões há muito tem sugerido a existência, em alguma época pré-histórica, de um vasto continente meridional, ao qual foi conferido o nome de Lemúria.
 
Dados fornecidos pela geologia e pela relativa distribuição de animais e plantas existentes e extintos
 
"A história do desenvolvimento do globo terrestre mostra-nos que a distribuição de terra e água em sua superfície está sempre e continuamente mudando. Em consequência das mudanças geológicas da crosta terrestre, ocorreram elevações e depressões do solo em toda parte, às vezes mais fortemente acentuadas num lugar, às vezes em outro. Embora ocorram de modo tão lento que, no decurso de séculos, o litoral venha à tona ou afunde apenas alguns centímetros, ou mesmo apenas alguns milímetros, ainda assim seus efeitos são enormes no decurso de longos períodos de tempo. E longos períodos de tempo - imensuravelmente longos - é o que não falta na história do globo terrestre. Durante o decorrer de muitos milhões de anos, desde que a vida orgânica passou a existir na Terra, a terra e a água têm lutado perpetuamente pela supremacia. Continentes e ilhas submergiram no mar e novas terras vieram à tona. Lagos e mares, lentamente, surgiram e secaram, e novas depressões de água apareceram devido ao afundamento do solo. Penínsulas tornaram-se ilhas em virtude da submersão dos estreitos istmos que as ligavam ao continente. Por causa da considerável elevação do leito do mar, as ilhas de um arquipélago tornaram-se os picos de uma contínua cadeia de montanhas.
 
Desse modo, o Mediterrâneo foi, numa determinada época, um mar interior, quando, no local do estreito de Gibraltar, um istmo ligou a África à Espanha. A Inglaterra, mesmo durante a história mais recente da Terra, quando o homem já existia, esteve diversas vezes ligada ao continente europeu e dele separada. E até mesmo a Europa e a América do Norte estiveram diretamente ligadas. Antigamente, o mar do Sul formava um grande Continente Pacífico, e as inúmeras ilhotas que hoje se encontram espalhadas por esse oceano eram simplesmente os picos mais elevados das montanhas que atravessavam esse continente. O oceano Índico formava um continente que se estendia desde o arquipélago de Sonda, ao longo da costa meridional da Ásia, até a costa leste da África. Sclater, um cidadão inglês, deu a esse antigo e imenso continente o nome de Lemúria, devido aos animais semelhantes ao macaco que nele habitavam; por outro lado, esse continente é de grande importância, por ser o provável berço da raça humana, que, com toda probabilidade, teve aí seu primeiro estágio de desenvolvimento a partir dos macacos antropóides.1 A importante prova que Alfred Wallace forneceu, com a ajuda de fatos cronológicos de que o atual arquipélago malaio consiste na realidade de duas partes completamente diferentes, é particularmente interessante. A parte ocidental, o arquipélago indomalaio, que abrange as grandes ilhas de Bornéu, Java e Sumatra, outrora estava ligada, pela Malaca, ao continente asiático e, provavelmente, também ao continente lemuriano, há pouco mencionado. Por outro lado, a parte oriental, o arquipélago austromalaio, que abrange Celebes, as Molucas, Nova Guiné, as ilhas Salomão, etc., estava, outrora, diretamente ligada à Austrália. Os dois segmentos formavam, em tempos passados, dois continentes separados por um estreito mas, atualmente, a maior parte deles encontra-se abaixo do nível do mar. Wallace, apoiado apenas em suas acuradas observações cronológicas, foi capaz de determinar, com grande precisão, a localização desse antigo estreito, cuja extremidade meridional passa entre Bali e Lomboque.
 
Portanto, desde que a água líquida existiu na Terra, os limites entre a água e a terra têm mudado incessantemente, e podemos afirmar que os contornos de continentes e ilhas nunca permaneceram, nem por uma hora, ou antes, nem por um minuto, exatamente os mesmos, pois as ondas se quebram, eterna e perpetuamente, na beira da praia; e por mais que a terra perca, nesses lugares, em extensão, em outros ela ganha pela acumulação do lodo, que se condensa em pedra sólida e novamente se ergue acima do nível do mar, como terra nova. Nada pode ser mais errôneo do que a idéia de um contorno fixo e inalterável de nossos continentes, tal como nos é incutido, em nossa adolescência, pelas deficientes lições de Geografia, destituídas de fundamento geológico.2
 
O nome Lemúria, como acima foi relatado, foi originalmente adotado pelo sr. Sclater, em consideração ao fato de que foi provavelmente nesse continente que os animais do tipo lemuróide se desenvolveram.
 
Sem dúvida, escreve A. R. Wallace, "trata-se de uma suposição legítima e altamente provável, bem como de um exemplo do modo pelo qual um estudo da distribuição geográfica de animais pode capacitar-nos a reconstruir a geografia de uma era antiga. . . . Ele [esse continente] representa o que foi, provavelmente, uma primitiva região zoológica, em alguma época geológica passada; mas como foi essa época e quais eram os limites da região em questão, somos totalmente incapazes de dizer. Supondo-se que abrangia toda a área atualmente habitada por animais lemuróides, devemos demarcar sua extensão desde o oeste da África até a Birmânia, sul da China e Celebes, uma área que, possivelmente, ele outrora ocupou".3
 
"Já tivemos ocasião", afirma Wallace em outro lugar, "de sugerir uma antiga ligação entre essa sub-região (da Etiópia) e Madagáscar, a fim de explicar a distribuição do tipo lemuriano, bem como algumas outras curiosas afinidades entre os dois países. Este ponto de vista é sustentado pela geologia da índia, que nos apresenta o Ceilão e o sul da índia consistindo sobretudo em granito e antigas rochas metamórficas, ao passo que a maior parte da península é de formação terciária, com algumas áreas isoladas de rochas secundárias. Portanto, é evidente que, durante a maior parte do período terciário,4 o Ceilão e o sul da índia eram limitados, ao norte, por uma considerável extensão de mar e, provavelmente, faziam parte de um vasto continente, ou de uma grande ilha meridional. Os inúmeros e notáveis casos de afinidade com a Malaia exigem, contudo, uma aproximação mais estreita entre essas ilhas, o que provavelmente ocorreu num período posterior. Quando, mais tarde ainda, as grandes planícies e planaltos do Industão estavam formados e efetuou-se uma permanente comunicação por terra com a rica e altamente desenvolvida fauna himalaia-chinesa, deu-se uma rápida imigração de novos tipos e muitas das espécies menos diferenciadas de mamíferos e pássaros se extinguiram. Entre os répteis e os insetos a competição foi menos árdua, ou então as espécies mais antigas estavam por demais bem adaptadas às condições locais para serem expulsas; assim, é apenas entre esses grupos que encontramos um número considerável daquilo que, provavelmente, constitui os remanescentes da antiga fauna de um continente ao sul, agora submerso.5
 
Depois de afirmar que, durante todo o período terciário e talvez durante grande parte do secundário, a maior parte das terras do globo se concentrava provavelmente no hemisfério norte, Wallace prossegue: "No hemisfério sul, parece ter havido três consideráveis concentrações terrestres muito antigas que, de tempos em tempos, variaram em extensão, mantendo-se sempre, porém, separadas umas das outras e representadas, aproximadamente, pela atual Austrália, África do Sul e América do Sul. Através desses sucessivos fluxos e refluxos das ondas de vida foi que elas, cada qual por seu turno, uniram-se temporariamente com alguma região do território setentrional." 6
 
Muito embora Wallace tenha negado, posteriormente, a necessidade de postular a existência desse continente, aparentemente em defesa de algumas de suas conclusões que foram criticadas pelo Dr. Hartlaub, seu reconhecimento geral acerca das ocorrências de afundamentos e sublevações da crosta em muitas regiões da superfície terrestre, bem como as inferências que ele extrai a partir das reconhecidas relações da fauna existente e extinta, acima citadas, permanecem sem dúvida, inalteradas.
 
Os trechos abaixo, extraídos de um artigo muito interessante escrito pelo sr. H. F. Blandford e lido numa reunião da Sociedade Geológica, abordam o assunto de um modo bem mais detalhado 7:
 
"As semelhanças entre os fósseis de animais e plantas do grupo de Beaufort, da África, e os de Panchets e Kathmis, da índia, são de tal modo surpreendentes que chegam a sugerir a existência anterior de uma ligação terrestre entre os dois territórios. Mas a semelhança das faunas fósseis africana e indiana não se extingue com os períodos permiano e triásico. As camadas vegetais do grupo de Uitenhage forneceram onze espécies de plantas, duas das quais o sr. Tate identificou com as plantas indianas de Rajmahal. Os fósseis indianos do jurássico ainda não foram classificados (com umas poucas exceções), mas afirma-se que o Dr. Stoliezka mostrou-se muito impressionado com as semelhanças entre certos fósseis de Kutch e as espécies africanas; e o Dr. Stoliezka e o sr. Griesbach provaram que, dos fósseis do cretáceo do rio Umtafuni, em Natal, a maioria (vinte e duas das trinta e cinco espécies descritas) é idêntica às espécies do sul da índia. Ora, o grupo de plantas existentes na índia e o de Karroo, bem como parte da formação de Uitenhage, na África, são, com toda probabilidade, originárias de água doce, ambos indicando a existência de uma grande área de terra ao redor, cuja devastação deu origem a esses sedimentos. Esse território ligava, sem interrupção, essas duas regiões? E há algum indício, na atual geografia física do oceano Índico, que poderia sugerir sua provável posição? Além disso, qual era a ligação entre esse território e a Austrália, cuja existência durante o período permiano deve ser igualmente pressuposta. E, finalmente, há alguma peculiaridade na fauna e flora existentes na índia, na África e nas ilhas situadas entre esses dois territórios que servisse de suporte à idéia de uma ligação anterior mais direta do que a que agora existe entre a África, o sul da índia e a península malaia? A especulação aqui formulada não é inédita, pois há muito tem sido assunto de reflexão de alguns naturalistas hindus e europeus. Entre esses, eu poderia citar meu irmão [Sr. Blandford] e o Dr. Stoliezka. Suas especulações fundamentam-se na afinidade e parcial identidade das faunas e floras de tempos remotos, bem como na existente conformidade de espécies que levou o sr. Andrew Murray, o sr. Searles, o estudante V. Wood e o Professor Huxley a deduzirem a existência de um continente do mioceno, que ocupava uma parte do oceano Índico. Na verdade, meu único objetivo neste ensaio consiste em tentar fornecer alguma explicação e ampliação adicionais à concepção do seu aspecto geológico.
 
"Quanto à evidência geográfica, um rápido olhar para o mapa revelará que, desde as cercanias da costa oeste da índia até as ilhas Seychelles, Madagáscar e Maurícia, estende-se uma série de atóis e bancos de coral, entre os quais o banco Adas, as ilhas Laquedivas, Maldivas, o arquipélago Chagos e a Saya de Mulha, o que indica a existência de uma ou várias cadeias de montanhas submersas. Além disso, as ilhas Seychelles, segundo o sr. Darwin, erguem-se sobre um banco extenso e mais ou menos plano, com uma profundidade de trinta a quarenta braças; desse modo, embora hoje parcialmente circundadas por recifes, podem ser consideradas como um prolongamento da mesma Unha de crista submersa. Mais para o oeste, as ilhas Cosmoledo e Comore são formadas de atóis e ilhas circundados por uma linha de recifes de coral, paralela à costa, que nos levam bastante perto das atuais costas da África e de Madagáscar. Essa cadeia de atóis, bancos e recifes parece indicar a posição de uma antiga cadeia de montanhas que, possivelmente, formava a espinha dorsal de uma região das remotas eras paleozóica e mesozóica e da era terciária, mais recente, assim como o sistema alpino e himalaio formam a espinha dorsal do continente eurásico, e as Montanhas Rochosas e os Andes, a das duas Américas. Como é conveniente dar a esse território mesozóico um nome, eu proporia o de Indo-Oceânico. [Contudo, o nome dado pelo sr. Sclater, ou seja, Lemúria, é o que, geralmente, tem sido mais adotado.] O Professor Huxley, apoiando-se em dados paleontológicos, sugeriu a existência de uma ligação terrestre nessa região (ou, mais exatamente, entre a Abissínia e a índia) durante o mioceno. Do que foi dito acima, pode-se constatar que eu pressuponho a sua existência desde uma época muito mais remota.8
 
Quanto à sua depressão, a única evidência atual relaciona-se com sua extremidade setentrional, e mostra que ela se encontrava nessa região posteriormente às grandes inundações do Deccan. Essas enormes camadas de rocha vulcânica estão notavelmente no plano horizontal, a leste das cordilheiras de Gates e Sakyádri, mas a leste destas começam a inclinar-se em direção ao mar, de modo que a ilha de Bombaim é formada pelas partes mais elevadas da formação. Isso indica apenas que a depressão em direção a oeste ocorreu na era terciária; nesse sentido, a inferência do Professor Huxley, segundo a qual isto se deu após a época miocena, é completamente compatível com a evidência geológica."
 
Depois de citar inúmeros exemplos detalhados acerca da estreita afinidade de grande parte da fauna existente nos territórios em estudo (leão, hiena, chacal, leopardo, antílope, gazela, galinha-anã, abetarda indiana, muitos moluscos da terra e, notavelmente, o lêmure e os pangolim), o autor prossegue:
 
"Assim, a paleontologia, a geografia física e a geologia, assim como com a distribuição de animais e plantas existentes, oferecem também seu testemunho sobre a antiga e estreita ligação entre a África e a índia, incluindo as ilhas tropicais do oceano Indico. Esse território Indo-Oceânico parece ter existido pelo menos desde o remoto período permiano, provavelmente (como assinalou o Professor Huxley) até o fim do período mioceno;9 a África do Sul e a índia peninsular são o que ainda resta desse antigo território. Ele não pode ter sido absolutamente contínuo durante todo esse longo período. Na verdade, as rochas cretáceas da índia meridional e da África do Sul e os leitos marinhos jurássicos das mesmas regiões provam que algumas de suas partes, por períodos mais longos ou mais curtos, foram invadidas pelo mar; mas qualquer quebra de continuidade não foi, provavelmente, prolongada; as pesquisas do Sr. Wallace no arquipélago oriental têm demonstrado como um mar, por mais estreito que seja, pode oferecer um obstáculo intransponível à migração de animais terrestres. Na era paleozóica, esse território deve ter estado ligado à Austrália e, na era terciária, à Malásia, visto que as espécies malaias, com afinidades africanas, são em muitos casos diferentes daquelas da índia. Conhecemos até agora muito pouco acerca da geologia da península oriental para podermos afirmar de que época data sua ligação com o território Indo-Oceânico. O Sr. Theobald apurou a existência de rochas triásicas, cretáceas e numulíticas na cordilheira da costa árabe; e sabe-se da ocorrência de rochas calcárias do período carbonífero ao sul de Moulmein, enquanto a cordilheira a leste do Irrauádi é formada por rochas terciárias mais jovens. Daqui se concluiria que um segmento considerável da península malaia deve ter sido ocupado pelo mar durante a maior parte do mesozóico e do eoceno. Rochas, que servem de suporte a plantas, da época de Raniganj foram identificadas na formação dos contrafortes externos do Siquin, no Himalaia; portanto, o antigo território deve ter ultrapassado um pouco o norte do atual delta gangético. Carvão, tanto do cretáceo como do terciário, é encontrado nos montes Khasi, e também no Alto Assam, mas, em ambos os casos, está associado aos leitos marinhos; de modo que se poderia concluir que, nessa região, os limites da terra e do mar oscilaram um pouco durante o período cretáceo e o eoceno. Ao noroeste da índia, a existência de grandes formações dos períodos cretáceo e numulítico, que atravessam o Belochistão e a Pérsia, penetrando na estrutura do Himalaia noroeste, prova que nos períodos mais recentes da era mesozóica e do eoceno, a índia não tinha comunicação direta com a Ásia ocidental; ao mesmo tempo, as rochas jurássicas de Kutch, da cordilheira de Salt e do norte do Himalaia demonstram que, no período precedente, o mar cobria grande parte da atual bacia fluvial do Indo; e as formações marinhas triásicas, carboníferas e ainda mais recentes do Himalaia indicam que, desde as épocas mais primitivas até a elevação daquela imensa cadeia, grande parte de sua atual localização esteve, durante muito tempo, coberta pelo mar.
 
"Resumindo as observações aqui apresentadas, temos:
 
"lº - O grupo de plantas existentes na índia são encontradas desde o remoto período permiano até os últimos anos do período jurássico, indicando (salvo alguns casos, e localmente) a ininterrupta continuidade de terra e condições de água doce, que podem ter predominado desde tempos muito mais remotos.
 
"2º _ No remoto período permiano, como na época pós-pliocena, um clima frio predominou nas regiões de baixa latitude e, sou levado a crer, em ambos os hemisférios, simultaneamente. Com o declínio do frio, a flora e a fauna réptil do período permiano disseminaram-se pela África, pela índia e, possivelmente, pela Austrália; ou a flora pode ter existido na Austrália um pouco mais cedo e, desse lugar, ter se disseminado.
 
"3º - A índia, a África do Sul e a Austrália estavam ligadas, no período permiano, por um continente Indo-Oceânico; e os dois primeiros países permaneceram ligados (no máximo, com apenas breves interrupções) até o fim da época miocena. Durante os últimos anos desse período, essa região também estava ligada à Malaia.
 
"4º - De acordo com alguns autores anteriores, considero que a localização desse território era demarcada pela série de recifes e bancos de coral que hoje existem entre o mar árabe e a África oriental.
 
"5º - Até o final da época numulítica não existia nenhuma ligação direta (exceto, possivelmente, por curtos períodos) entre a índia e a Ásia ocidental."
 
No debate que se seguiu à leitura do ensaio, o Professor Ramsay "concordou com a opinião do autor quanto à junção da África com a índia e Austrália em eras geológicas".
 
O Sr. Woodward "ficou satisfeito ao descobrir que o autor acrescentara mais provas, derivadas da flora fóssil do grupo mesozóico -da índia, em corroboração das opiniões de Huxley, Sclater e outros quanto à existência, no passado, de um antigo continente hoje submerso (a "Lemúria"), existência essa há muito tempo pressagiada pelas pesquisas de Darwin acerca dos recifes de coral".
 
"Dos cinco continentes hoje existentes", escreve Ernst Haeckel na sua extensa obra The History of Creation,10 "nem a Austrália, nem a América e tampouco a Europa podem ter sido esse lar primevo [do homem], ou o chamado 'Paraíso', o 'berço da raça humana'. A maioria das circunstâncias indicam a Ásia meridional como o local em questão. Além da Ásia meridional, o único dos outros atuais continentes que poderia ser considerado sob esse aspecto é a África. Mas há várias circunstâncias (especialmente fatos cronológicos) sugerindo que o lar primitivo do homem foi um continente que hoje se encontra submerso no oceano Índico e que se estendia ao longo do sul da Ásia, como ela é atualmente (e talvez ligando-se diretamente a ela), prolongando-se, para o leste, até as distantes índia e ilhas da Sonda e, para o oeste, até Madagáscar e as costas do sudeste da África. Já mencionamos que na geografia animal e vegetal muitos fatos tornam a antiga existência de um continente ao sul da índia bastante provável. Sclater deu a esse continente o nome de Lemúria, devido aos semimacacos que o caracterizavam. Ao admitirmos que a Lemúria foi o lar primevo do homem, facilitaremos sobremodo a explicação da distribuição geográfica das espécies humanas pela migração."
 
Numa obra posterior, The Pedigree of Man, Haeckel postula a existência da Lemúria em alguma era primitiva da história da Terra como um fato reconhecido.
 
O trecho abaixo, extraído dos escritos do Dr. Hartlaub, pode servir de conclusão a esta parte dedicada a algumas provas referentes à existência da Lemúria, o continente desaparecido:11
 
"Há cinqüenta e três anos, Isidore Geoffroy St. Hilaire observou que, se tivéssemos de classificar a ilha de Madagáscar levando-se em conta apenas considerações de ordem zoológica, deixando-se de lado sua localização geográfica, poderíamos demonstrar que ela não é nem asiática nem africana, mas bastante diferente desses dois continentes, sendo quase um quarto continente. Poderíamos provar ainda que este quarto continente se diferenciaria, quanto à sua fauna, muito mais da África - que se encontra tão próxima - que da índia - que está tão longe. Com essas palavras, cuja exatidão e fecundidade as pesquisas mais recentes tendem a trazer à plena luz, o naturalista francês formulou, pela primeira vez, o interessante problema, para cuja solução foi há pouco proposta uma hipótese com bases cientificas, pois esse quarto continente de Isidore Geoffroy é a 'Lemúria' de Sclater - aquele território submerso que, abrangendo partes da África, deve ter se estendido a grande distância na direção leste, passando pelo sul da índia e pelo Ceilão, e cujos picos mais elevados divisamos nos cumes vulcânicos de Bourbon e Maurícia e na cordilheira central da própria Madagáscar - os últimos refúgios da já extinta raça lemuriana que, em tempos passados, o povoou."
 
No caso em questão, havia apenas um modelo arruinado de terracota e um mapa muito mal conservado e amarrotado, de modo que a dificuldade de reconstituir a lembrança de todos os detalhes e, conseqüentemente, de reproduzir cópias exatas foi enorme.
 
Fomos informados de que os mapas atlantes eram feitos, nos dias da Atlântida, pelos poderosos Adeptos, mas não sabemos se os mapas lemurianos foram modelados por alguns dos instrutores divinos nos dias em que a Lemúria ainda existia, ou se em tempos posteriores, na época atlante.
 
Contudo, embora resguardando-se de depositar excessiva confiança quanto à absoluta exatidão dos mapas em questão, quem transcreveu dos antigos originais acredita que estes possam, em seus pormenores mais importantes, ser considerados aproximadamente correios.
 
Dados extraídos de antigos registros
 
Os outros dados que temos quanto à Lemúria e seus habitantes foram extraídos da mesma fonte e da mesma maneira que nos tornaram possível a redação d'A História da Atlântida. Também neste caso o autor teve o privilégio de obter cópias de dois mapas, um correspondente à Lemúria (e aos territórios limítrofes) durante o período da maior extensão atingida pelo continente, o outro mostrando seus contornos após seu desmembramento pelas grandes catástrofes, mas muito antes de sua destruição definitiva.
 
Jamais se sustentou que os mapas da Atlântida fossem exatos quanto a um único grau de latitude ou longitude, mas, a despeito da enorme dificuldade de se obter informações no presente caso, deve-se mencionar que a exatidão destes mapas da Lemúria é mais precária ainda. No primeiro caso, havia um globo, um bom baixo-relevo de terracota, e um mapa de pergaminho, ou de algum tipo de pele, muito bem conservado, permitindo, assim, uma ótima reprodução.
 
Duração provável do continente da Lemúria

Um período de, aproximadamente, quatro a cinco milhões de anos corresponde, provavelmente, à duração do continente da Atlântida, pois foi mais ou menos nessa época que os rmoahals, a primeira sub-raça da Quarta Raça-Raiz que habitou a Atlântida, surgiram numa porção do continente lemuriano, que, nesse tempo, ainda existia. Relembrando que, no processo evolucionário, o algarismo quatro invariavelmente corresponde não só ao nadir do ciclo mas também ao período de mais curta duração, quer no caso de um Manvantara quer no de uma raça, pode-se supor que o total de milhões de anos que se pode atribuir à duração máxima do continente da Lemúria deve ser muitíssimo maior do que aquele que corresponde à duração da Atlântida, o continente da Quarta Raça-Raiz. No caso da Lemúria, porém, não se pode estipular nenhum período de tempo, nem mesmo com uma precisão aproximada. As épocas geológicas, tanto quanto são conhecidas pela ciência moderna, constituem um instrumento de referência contemporânea mais adequado, e dele lançaremos mão.
 
Os mapas
 

Mas nem mesmo épocas geológicas, deve-se dizer, são atribuídas aos mapas. Contudo, se nos fosse permitido fazer uma inferência a partir dos dados de que dispomos, o mais antigo dos dois mapas lemurianos, ao que parece, corresponde à configuração do globo terrestre desde o período permiano até o período jurássico, passando pelo triásico, ao passo que o segundo mapa, provavelmente, corresponde à configuração do globo terrestre desde o período cretáceo até o período eoceno.
 
Pode-se deduzir, a partir do mais antigo dos dois mapas, que o continente equatorial da Lemúria, na época de sua maior extensão, quase circundava o globo, estendendo-se, então, desde o local onde hoje se situam as ilhas do Cabo Verde, a uns poucos quilômetros da costa de Serra Leoa, de onde se projetava para o sudeste, através da África, Austrália, ilhas da Sociedade e de todos os mares interpostos, até um ponto, a poucos quilômetros de distância de um grande continente insulano (mais ou menos do tamanho da atual América do Sul), que se prolongava através do oceano Pacífico, abrangendo o cabo Horn e partes da Patagônia.


 
Um fato notável, observado no segundo mapa da Lemúria, é o grande comprimento e, em alguns lugares, a excessiva estreiteza do canal que separava os dois grandes blocos de terra nos quais o continente, nessa época, tinha sido dividido. Deve-se observar que o canal hoje existente entre as ilhas de Bali e Lomboque coincide com uma porção do canal que então dividia os dois continentes. Pode-se constatar ainda que esse canal avançava para o norte pela costa oriental de Bornéu, e não pela ocidental, como supôs Ernst Haeckel. No que diz respeito à distribuição da fauna e da flora e à existência de muitas espécies encontradas tanto na índia como na África, relacionadas pelo Sr. Blandford, pode-se observar que, entre algumas regiões da índia e grandes trechos da África havia, durante o período do primeiro mapa, uma ligação por terra e que uma comunicação semelhante também foi parcialmente mantida no período do segundo mapa. Além disso, uma comparação dos mapas da Atlântida com os da Lemúria demonstrará que sempre houve uma comunicação por terra, ora numa época, ora noutra, entre regiões bastante diferentes da superfície terrestre hoje separadas pelo mar, de modo que a atual distribuição da fauna e da flora nas duas Américas, na Europa e nos países orientais, que tem sido um verdadeiro enigma para os naturalistas, pode ser facilmente explicada.
 
A ilha indicada no mapa lemuriano mais antigo, localizada a noroeste do extremo promontório daquele continente e diretamente a oeste da atual costa da Espanha, foi, provavelmente, um centro de onde proveio, durante muitas épocas, a distribuição da fauna e da flora acima mencionada. Pode-se perceber - e este é um fato muito interessante - que essa ilha deve ter sido do começo ao fim o núcleo do subsequente grande continente de Atlântida. Ela existia, como vemos, nesses mais remotos tempos lemurianos. No período do segundo mapa, estava unida ao território que, anteriormente, fazia parte do grande continente lemuriano; e, de fato, nessa época ela recebera tantos acréscimos de território que poderia ser mais apropriadamente considerada um continente do que uma ilha. Ela foi a grande região montanhosa da Atlântida em seus primórdios, quando a Atlântida abrangia grandes extensões de terra que hoje se tornaram as Américas do Sul e do Norte. Ela permaneceu a região montanhosa da Atlântida na sua decadência, e a de Ruta, na época de Ruta e Daitya, e praticamente constituiu a ilha de Posseidones - o último fragmento do continente da Atlântida -, cuja submersão definitiva ocorreu no ano de 9564 a.C.
 
Comparando-se estes dois mapas com os quatro mapas da Atlântida, verifica-se ainda que a Austrália, a Nova Zelândia, Madagáscar, porções da Somália, o sul da África e a extremidade meridional da Patagônia são territórios que, provavelmente, existiram durante todas as catástrofes que se sucederam desde os primeiros anos do período lemuriano. O mesmo pode-se dizer das regiões meridionais da índia e do Ceilão, salvo uma submersão temporária do Ceilão na época de Ruta e Daitya.
 
É verdade que, atualmente, ainda existem extensões de terra que pertenceram ao continente hiperbóreo, muito mais antigo; são, naturalmente, as mais antigas regiões conhecidas na face da terra: a Groenlândia, a. Islândia, Spitzbergen, a maior parte das regiões ao norte da Noruega e da Suécia e a extremidade setentrional da Sibéria.
 
Os mapas mostram que o Japão permaneceu acima da água, quer como ilha, quer como parte de um continente, desde a época do segundo mapa lemuriano. A Espanha também existia, sem dúvida, desde esse tempo. A Espanha é, portanto, provavelmente, com exceção da maior parte das regiões setentrionais da Noruega e da Suécia, o território mais antigo da Europa.
 
O caráter indeterminado das afirmações feitas toma-se necessário pelo nosso conhecimento de que aí ocorreram afundamentos e elevações de diferentes porções da superfície terrestre durante épocas situadas entre os períodos representados pelos mapas.
 
Por exemplo, sabemos que, logo após a época do segundo mapa lemuriano, toda a península malaia submergiu e assim permaneceu por longo tempo, mas uma subsequente elevação dessa região deve ter ocorrido antes da época do primeiro mapa atlante, pois o que é hoje a península malaia nele aparece como parte de um grande continente. De modo análogo, em épocas mais recentes, ocorreram repetidos afundamentos e elevações de menor importância bem próximos da minha terral natal, e Haeckel está perfeitamente correto ao dizer que a Inglaterra - ele poderia, com maior precisão, ter dito as ilhas da Grã-Bretanha e Irlanda, que naquela época, estavam unidas - "tem sido repetidamente ligada ao continente europeu, e repetidamente dele apartada".
 
A fim de tornar o assunto mais claro, anexamos a este texto uma tabela, fornecendo uma história condensada da vida animal e vegetal em nosso globo, equiparada - segundo Haeckel - aos estratos de rocha que lhe são coetâneos. As outras duas colunas fornecem as raças humanas coetâneas e os grandes cataclismos que são do conhecimento de estudiosos do Ocultismo.